terça-feira, 17 de maio de 2011

"Azimuto a minha barca", de Pedro Tamen

Azimuto a minha barca
e o porto é onde já estou.
Esta chuva que me encharca
é a que nunca pingou.

Olho pra trás desasado
das asas que nunca tive.
Não há mudança de estado
na descida do declive.

Pedro que sou, reduzo
o sapato em que me meto
a moído parafuso
e a desgosto secreto.

Desalimento a certeza,
aperto a chave ao sorriso,
lavo a loiça, ponho a mesa,
falo faceto, agonizo.

(in Retábulo das Matérias, 1956-2001)

Sem comentários: