quarta-feira, 14 de setembro de 2011

"Tapeçaria", de Charles Simic

(Um dos poemas mais interessantes que li nos últimos tempos. Opto por apenas publicar a excelente tradução de José Alberto Oliveira).

Está pendurada do céu até à terra.
Há nela árvores, cidades, rios,
porquinhos e luas. Num canto
a neve cai sobre uma carga de cavalaria,
noutro mulheres plantam arroz.

Também se pode ver:
um frango arrastado por uma raposa,
um casal nu na sua noite de núpcias,
uma coluna de fumo,
uma mulher de mau olhado cuspindo para um balde de leite.

O que está por trás dela?
- Espaço, um enorme espaço vazio.

E quem está agora a falar?
- Um homem que adormeceu com o chapéu posto.

O que acontece quando acordar?
- Ele irá a uma barbearia.
Raparão a sua barba, nariz, orelhas e cabelo,
para que se pareça com todos os outros.

(in Previsão de Tempo para Utopia e Arredores; trad. José Alberto Oliveira)

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