segunda-feira, 2 de abril de 2012

"Apologia do sonho", de João Rui de Sousa

Que do sono só se salva o sonho
quando, sendo penosa a cadência dos dias,
esse sonho se torna licor inebriante
que por dentro nos lava ou rasura o frio
de viajar por entre as catacumbas.

Que esse sonho salva, bem sabemos,
nas tão difíceis contas a prestar
à razão mais corrente e à voz mesquinha:
dizerem que dormir é descansar
para voltar - sem sonho - à mesma vinha
que, no dia-a-dia, se tem de amanhar...

(in Quarteto para as próximas chuvas; ed. Dom Quixote, 2008)

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