sexta-feira, 24 de maio de 2013

"Escrever depois de um dia de trabalho árduo", de Luís Filipe Parrado

Já não há maçãs
nem laranjas na fruteira

e o cesto do pão
está irremediavelmente vazio.

Ainda assim
escrevo,

ainda assim,
depois de um dia de trabalho árduo.

Depois de um dia de trabalho árduo
os poemas são de pele e osso

e parecem-se estranhamente
com listas de compras,

pão, laranjas,
maçãs,

coisas escritas à mão,
coisas de que precisamos para viver,

coisas em que pensamos só
quando nos fazem falta.

(in Resumo - a poesia em 2012; ed. Documenta, 2013)