quinta-feira, 6 de março de 2014

"Vento", de A. M. Pires Cabral

I

Toda a noite fez vento sobre os campos.

Rodopiaram folhas mortas nos caminhos,
em busca de refúgio
onde o vento não viesse perturbar
a sua propensão para a inércia.

II

Também eu - folha morta ou em vias disso
que aspira às delícias da imobilidade -
busco algures abrigo contra essa
outra classe de vento que me abrasa,
desinquieta e toca a rebate
sinos sonoros no vazio sem limites
do meu interior.

(in Gaveta do Fundo; ed. Tinta da China, 2013)

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