segunda-feira, 13 de abril de 2015

[nada do que te disser], de Dinarte Vasconcelos

nada do que te disser
abalará o matadouro ou a fornalha

o silêncio seria uma hipótese administrativa
mas suspendo-o porque quero viver

o meu epitáfio esteve sempre escrito
nas linhas que suturam a tua ferida

nos bafos que levam
e fazem pousar as cinzas

é bom que o saibamos
antes e depois dos holocaustos

se desprezarmos as palavras
tudo é transmissível – tudo se assemelha

emergem némesis siamesas
e oposições forjam-se do mesmo veio

por isso calo o silêncio
dos rituais e da burocracia higiénica

– cicatriz à tua ilharga
é chaga minha

– o que te faz arder
é o que me fará recordar

(in 70 poemas para Adorno; ed. Nova Delphi, 2015)

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