quarta-feira, 10 de junho de 2015

"Arte de pontaria", de Manuel Alegre

Invadiram os séculos que estão dentro de nós
invadiram a língua o canto o ritmo
antes fossem exércitos fardados
antes as botas de um invasor visível
não estes missionários da nova fé
com seus mercados sobre os nossos ombros
e seus discursos de sílabas pontiagudas
para gente de espinha de curvar.
Quando eles falam o céu fica cinzento
e há um rasto de cinza e desamparo.
Apetece pegar no poema
e disparar.

(in O Bairro Ocidental; ed. D. Quixote, 2015)

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