segunda-feira, 12 de outubro de 2015

"O cachimbo", de Charles Baudelaire

Sou o cachimbo de um autor;
Vê-se, ao olhar prà minha cara,
Como a de um abissínio ou cafre,
Que o meu dono é bom fumador.

Quando está repleto de dor
Fumego como uma choupana
Onde alguém cozinha e vai esperando
O regresso do lavrador.

Enlaço e embalo a sua alma
Na movediça rede azul
Que me sobe da boca em fogo

E vou espalhando um forte bálsamo
Que agrada ao coração e cura
Todo o cansaço do seu espírito.

(in As Flores do Mal; trad. Fernando Pinto do Amaral, ed. Assírio & Alvim, 1996)

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